segunda-feira, 11 de julho de 2011

Marcelar

Rui PerdigãoHá pessoas em Portugal que continuam a ter um estatuto acima de todos os outros mortais. Esses personagens apresentam-se sempre sem contraditório e dão-lhes tal relevo que lhes concedem espaços nobres da comunicação de massas para que façam da sua oratória, baseada em suposições e palpites, matéria para condicionamento das agendas mediáticas e do poder.

É interessante verificar que esta prática se aplica na proporcionalidade inversa dos resultados que esses personagens obtém quando se sujeitam a sufrágio (aliás, por regra, sempre que vão a eleições internas ou externas conseguem sair de lá sem mandato), assim como é interessante verificar o grau de erro que resulta das suas análises apesar de conseguirem diminuir essa percepção dizendo tudo e o seu contrário.

Exemplos? Marcelo Rebelo de Sousa e José Pacheco Pereira, entre muitos outros que nem sequer se deixam escrutinar.

Vem isto a propósito de quê? A propósito daquilo que Marcelo ontem deixou ficar no ar quando se referiu às agências de notação e às justificações que deu para explicar as incoerências do Presidente da República quanto aos “mercados” tentando desviar a opinião pública do facto de elas resultarem exclusivamente da alteração do novo equilíbrio político de direita por ele fomentado com mestria, diga-se.

As agências de notação servem para fornecer indicações aos “mercados” sobre os activos que estão na praça. Para que essas indicações sejam relevantes têm de se basear em metodologias e boas-práticas credíveis. Não podem ser mera fonte de opinião. Resultam da análise de indicadores, metas e métricas.

O que é que lhes dá credibilidade? A transparência na aplicação dos métodos, a qualidade na recolha e no tratamento dos dados, a aplicabilidade, a coerência e a consistência dos indicadores, a fiabilidade dos resultados (também mensurável pelo índice de erro em avaliações anteriores) e a imparcialidade e independência na sua comunicação. Há muitas empresas, e também as há na Europa e até mesmo em Portugal (aqui está uma boa área de negócio internacional de serviços que o Poder nacional deveria apoiar) que não estão cotadas nem fazem parte do portfolio de referência dos grandes investidores e dos grandes decisores institucionais. Há que as credibilizar.

O capitalismo não se gere nem se assusta com o coração. Mesmo com a razão é aquilo que se sabe, quanto mais com estados de alma! Ás investidas do capitalismo desenfreado tem de se responder com a mesma insensibilidade impiedosa e, para isso, as suas vítimas terão de centrar a defesa na demonstração de que os instrumentos ou estão mal concebidos, ou incorrectamente aferidos e/ou que os resultados transmitidos estão manipulados ou distorcidos.

Como? Primeiro com a creditação internacional das metodologias e dos indicadores, depois com a calibragem dos instrumentos de aferição e finalmente com a constatação das evidências através de auditoria igualmente creditada.

Ao contrário do que Marcelo quis fazer entender isto não é conversa de café e quando, p.e., as notações com base nas medições de risco referentes aos USA são baseadas em regras opacas e diferentes daquelas que têm sido aplicadas em países europeus (até agora SÓ para ALGUNS países europeus) tem de se demonstrar essa contradição.

A questão não é nova e a alteração de opinião que Cavaco Silva apresentou nos últimos meses só lhe deveria ser permitida se ele não fosse um técnico da matéria, razão bastamente evocada como o valor para o fazer eleger das duas vezes que se candidatou à Presidência da República.
LNT
[0.261/2011]

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