sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Regras da casa e polvo de escabeche

PolvoPeço desculpa aos meus leitores, principalmente aos mais habituais comentadores, mas terei de activar a irritante funcionalidade das letras anti-spam nas caixas de comentários.

Como já devem ter reparado, a Barbearia tem estado a ser parasitada com publicidade, alguma agressiva e sem possibilidade de ser removida, o que não é especialmente grave, mas também não se deseja.

É política desta casa facilitar a vida a quem quiser comentar evitando a funcionalidade de "check" e a de aprovação prévia de comentários.

É uma opção consciente. A primeira para não dissuadir quem pretende deixar a sua opinião e a segunda para dar oportunidade aos covardes que, sob anonimato, vêm aqui fazer os seus insultos. Se lhes servir de terapia, já nos satisfaz, e quando os limites do razoável forem ultrapassados temos o recurso ao delete.

Isto, como se sabe, é uma barbearia. As conversas fluem na cadência dos escanhoados e do coiffeur. Os tratamentos de SPA, a estética e o relaxe são executados à medida. Tenta-se um serviço personalizado.

Existe um contador de visitas para monitorizar e acompanhar a fidelização e não para incrementar e inflacionar, através de truques, a cotação das acções da barbearia. Nesta loja prefere-se a verdade de trezentos leitores diários regulares à mentira de milhares de utilizadores Internet que venham ao engano.

Para acabar esta dissertação umbiguista onde se apresentam razões para a razão das coisas, deixo uma última nota: - Aqui não se vende nada e tudo é imaterial. Sabemos que há técnicas sofisticadas de marketing e sabemos que até há quem use pele de polvo para imprimir letras e conseguir campanhas de venda maciça. Quando se está no negócio da venda das letras e das palavras, o uso da pele de polvo é apropriado dadas as suas características de camuflagem. Não é o caso desta baiuca cujo negócio consiste unicamente no comércio de ideias, por muito idiotas que sejam.

Por falar em idiotices, e aproveitando. Repararam que ontem na Assembleia, enquanto nos serviam uma caldeirada de polvo aprovou-se, na generalidade, o instrumento com que nos metem a mão no bolso? Parecia um daqueles banquetes pelintras em que, não havendo dinheiro para o prato principal, se enche o bandulho dos convidados de acepipes.

Enquanto os jornalistas, o PCP e o BE discutiam se o polvo tinha seis ou oito patas, o CDS, o PSD e o PS...

País de otários, é o que é!
LNT
[0.068/2010]

Já fui feliz aqui [ DCXCVII ]

Passage Longines
Passage Longines - Genebra - Suiça
LNT
[0.067/2010]

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Liberdade de impressão

PapagaioO filho-da-mãe ferve em pouca água, dizia o meu parceiro de mesa entre duas dentadas na sandes de presunto, com os olhos postos na primeira página de um jornal que a ASAI proibiu como embalagem de castanhas.

O gajo é um sacripanta, um trafulha, basta ver-lhe as companhias e os tiques. Até já conseguiu acabar com a merda da livre expressão em Portugal.

E eu olhava de soslaio para o puto e pensava que se ele sonhasse rosnar aquilo há trinta e poucos anos atrás já estava engavetado e com uma chanfalhada nas trombas.

Frócas-se!
LNT
[0.066/2010]

O magano do canito

CanitoQuando o homem apareceu na televisão atrás do palanque, feito Dom Sebastião, a anunciar que se oferecia ao sacrifício de salvar a Pátria a partir das rendas de Bruxelas que entretanto ganhou, o magano do canito, a quem deve encanitar o nome de Rangel, tapou o focinho com as patas e deixou escapar um suspiro.

Eu, que lhes conheço as manhas, ao canito e ao Rangel, passei-lhe a mão pelo pêlo e tugi-lhe de mansinho que não se amofinasse. Aquilo era mais uma massada de cherne, coisa de mau cheiro mas de substanciais calorias, um caldo que mais tarde ou mais cedo se vai entornar.

Nada de novo. Brincadeiras e safanões de meninos guerreiros. Mais um chuto no berço.

O raio do animal, que é fino como um alho, enroscou-se aos meus pés, de costas viradas à pantalha e adormeceu.

Já não havia mais nada para ver nem ouvir.
LNT
[0.065/2010]

Já fui feliz aqui [ DCXCVI ]

Galeirões
Galeirões ao pôr-do-sol - Alentejo - Portugal
LNT
[0.064/2010]

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Funcionários de 1ª

CogumeloSempre que se fala em dívida, em despesa pública e no seu controlo, aparecem os do costume (e hoje em dia já aparecem alguns que não era costume aparecerem) a dizer que há que cortar nos vencimentos dos funcionários públicos e que já não basta congelá-los, mas que se torna imprescindível amputá-los.

Raciocínio recorrente de quem pensa que despesa pública são vencimentos de funcionários e que faz esquecer com esta conversa os milhões esbanjados em serviços, consultorias e fornecimento de serviços com que anualmente se pagam mais uns milhares de funcionários públicos não-quadros da administração, mas de empresas privadas, que fazem do Orçamento do Estado, através de outsourcing e consultadorias, a sua única razão de vida.

Estes funcionários de 1º, os das empresas privadas parasitas do Estado, que auferem vencimentos e mordomias vedadas aos outros, estão na primeira linha dos que reclamam os cortes nos vencimentos e emprego dos funcionários de papel passado.

Percebe-se porquê, não percebe?
LNT
[0.063/2010]

(Atos 9.1-22)

CavaloO homem anda a dar recados para a família através do megafone que lhe puseram na mão.

Anda em Bruxelas, por Estrasburgo, ou lá por onde é, a refilar com os custos e as despesas embora seja um dos convivas no banquete orçamental e, assim de mansinho como quem fala das coisas que lhe pagam para falar, mete os slipes e as peúgas que devia pôr-de-molho na saponária privada, na máquina de lavar comunitária.

Não se descose, o coiso, o que deixa Coelho aos passos e Branco a guiar, nervoso, e a ler o Novo Testamento:

"Saulo, fervoroso defensor da tradição judaica (e por isso talvez mesmo um zelote), foi enviado a Damasco para fazer face à agitação dos seguidores do "Caminho".

Foi durante esta missão a Damasco que Saulo tomou o partido dos cristãos que perseguia anteriormente. Foi aqui que Saulo, indo no caminho de Damasco, já perto da cidade, viu um resplendor de luz no céu que o cercou, e caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: "Saulo, Saulo, por que me persegues?". Saulo muda de lado.

A esta mudança de partido ele fez corresponder uma mudança de nome. Abandonou o nome Saulo e, deste momento em diante, fez-se conhecer como Paulo."

LNT
[0.062/2010]

Já fui feliz aqui [ DCXCV ]

Cerejas
Cerejas - (aos cabazes, no tempo delas) - Portugal

LNT
[0.061/2010]

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Nicotina Magazine

Nicotina MagazineJoão Gomes de Almeida lançou ontem a Nicotina Magazine, revista on-line de cultura subversiva e pós-revolucionária onde mistura uma editora, um bar, um restaurante, gente interessante, notícia, esquerda, direita, marche.

Neste primeiro número inclui entrevistas, faz referências à blogos(fera), divulga caixas sobre literatura, cinema, artes, dança, teatro e inclui uma crónica minha entre outras da autoria de Maria Isabel Goulão, Maria Inês de Almeida, Tomás Vasques, Nuno Ramos de Almeida e Vasco Campilho. É o que se chama ficar bem acompanhado.

A Nicotina Magazine tem tudo para vir a ser um êxito de edição. Aqui deixo ao João os meus parabéns pelo arrojo da iniciativa, os meus votos de maior sucesso para todas as vertentes deste seu projecto e o agradecimento pelo convite que me endereçou para fazer parte deste número de arranque.

A pouco mais de um ano da escolha do novo Presidente da República começa a ser tempo de se esboçar o perfil de quem queremos que venha a ser o garante do interesse dos cidadãos e do interesse nacional. Urge que se garanta que o próximo Presidente da República seja uma entidade em que o povo português se reveja ética e consistentemente, o que não implica neutralidade política mas recusa ao engajamento nas máquinas partidárias. Alguém que não envolva ou se deixe envolver na “partidarite” e no jogo de pequenas políticas e em que se confie um juízo pertinente capaz de reunir vontades e impor aos poderes não eleitos rumo sustentado na defesa da qualidade e da decência. LNT

LNT
[0.059/2010]

Rastos:
USB Link ->
o Amor no Tempo da Blogosfera ≡ João Gomes de Almeida
-> Nicotina Magazine
-> Nicotina Magazine ≡ LNT - Voltar a acreditar

Já fui feliz aqui [ DCXCIII ]

Pássaro
Pássaro de jardim - Albarraque - Portugal

LNT
[0.058/2010]

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Falemos de coisas importantes

Rolls RoyceDeixemos de lado os fait-divers para vender livros, aumentar share em canais de notícias e promover os ajustes de contas velhas.

Deixemos de lado, até porque há mais vida para além do orçamento, o dito cujo.

Deixemos de lado as festividades comemorativas do centésimo dia da implantação do diálogo e da convergência das rectas paralelas.

Deixemos de lado esse pormenor urgente de construir um comboio foguete interplanetário que tem de mudar de eixos quando chega aos Pirenéus.

Deixemos de lado todas essas manigâncias como são, por exemplo, os exercícios para cálculo da taxa de desemprego e as projecções que advém da possível devolução dos desempregados portugueses que estão no estrangeiro e que são adicionados às estatísticas desses países e subtraídos às nossas.

Deixemos de lado todas essas minudências, essas idiossincrasias, como diria o Paulo Ferreira, e concentremo-nos nas razões que me levam a não poder comprar o Rolls Royce que tem lugar marcado na minha garagem e nunca mais lá entra. Isso sim é motivo sério, sério porque não me reformei aos 50 anos, tenho emprego, trabalho e pago impostos, pago-os para todos e todos me exigem que pague mais, que trabalhe mais, que ganhe menos (agora chamam-lhe congelamento) e não consigo amealhar para o tal bólide que nunca irei ter porque... pago impostos, trabalho, tenho emprego e não me reformei aos 50 anos.
LNT
[0.057/2010]

Já fui feliz aqui [ DCXCII ]

Trânsito à noite
De cá para lá, de lá para cá - Lisboa - Portugal

LNT
[0.056/2010]

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Queixa das almas jovens censuradas

AngocheDão-nos um lírio e um canivete / e uma alma para ir à escola / mais um letreiro que promete / raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário / que tem a forma de uma cidade / mais um relógio e um calendário / onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim / para dar corda à nossa ausência. / Dão-nos um prémio de ser assim / sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu / para tirarmos o retrato / Dão-nos bilhetes para o céu / levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crânios ermos / com as cabeleiras das avós / para jamais nos parecermos / conosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história / da nossa historia sem enredo / e não nos soa na memória / outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados / que adormecemos no seu ombro / somos vazios despovoados / de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho / e um pacote de tabaco / dão-nos um pente e um espelho / pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça / e uma cabeça presa à cintura / para que o corpo não pareça / a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro / com embutidos de diamante / para organizar já o enterro / do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal / um avião e um violino / mas não nos dão o animal / que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão / com carimbo no passaporte / por isso a nossa dimensão / não é a vida, nem é a morte
Natália Correia
LNT
[0.055/2010]

Já fui feliz aqui [ DCXCI ]

Casa Pereira
Casa Pereira - Lisboa - Portugal

LNT
[0.054/2010]